Um lugar ao sol em Balneário Camboriú: a cidade na corrida pelos maiores arranha-céus do Brasil

Construir cada vez mais alto tem sido um dos objetivos tácitos da construção civil desde o advento do elevador elétrico no final do século XIX. Foi este dispositivo - possivelmente o meio de transporte mais seguro do mundo - que proporcionou a construção de alguns dos edifícios mais emblemáticos e importantes da história da arquitetura ao longo de todo o século XX.  Do Flatiron Building (1902) em Nova Iorque e seus (hoje) modestos 22 pavimentos aos 451 metros de altura das Petronas Towers (1998) em Kuala Lumpur e, finalmente,  os insanos 828 metros do Burj Khalifa, hoje o arranha-céu mais alto do mundo, mais tem sido sempre mais

Não precisamos, porém, nos deslocar tanto para ver de perto este tipo de construção: hoje, Balneário Camboriú, em Santa Catarina, famoso ponto de veraneio para turistas de toda a América do Sul, apresenta uma das maiores concentrações de arranha-céus do Brasil e ostenta a maior torre construída em território nacional: a Millennium Palace, com 45 pavimentos e 177 metros de altura. Este não é um caso isolado, já que nos próximos anos a esta torre se juntarão projetos ainda mais imponentes, como a Yachthouse a Infinity Coast, de 74 e 66 pavimentos, respectivamente.

À diferença da maioria das torres em altura construídas em outras partes do país (e, notadamente, no mundo), as estruturas de Balneário Camboriú recebem quase exclusivamente programas residenciais: enormes torres de apartamentos de veraneio para magnatas brasileiros e internacionais que podem pagar por uma residência em uma das praias mais movimentadas do sul do país. Segundo o diretor da empreiteira FG Empreendimentos (que enfrentou o embargamento da Infinity Coast por acusações de dano ambiental), Altevir Baron, a região "é uma das mais valorizadas do país" e atrai milionários do agronegócio do centro-oeste e sul do Brasil. Com efeito, a cidade de 128 mil habitantes não recebe, evidentemente, apenas turistas abastados (já tendo registrado dois milhões de visitantes em temporadas de veraneio), no entanto, é este tipo de público que está na agenda das empreiteiras locais e que move as engrenagens da construção destas torres que não impressionam em nada senão pela altura.

De colossais torres de vidro a infames tentativas de esboçar alguma referência à arquitetura clássica, criticar os leviatãs de Balneário Camboriú com base em critérios estéticos e plásticos não exigiria muito esforço, tampouco faria sentido, já que estas torres são construídas "por necessidade de mercado" onde a regra consiste em evitar apartamentos sem vista para o mar. Como os terrenos são escassos e, em geral, pequenos, o resultado é o que Koolhaas chama em seu manifesto retroativo para Manhattan de anarquia na terceira dimensão, em que a rigidez do plano térreo dá origem aos mais extravagantes e exagerados volumes. O que se vê hoje no balneário catarinense é uma um retrato caricaturado das leis de mercado sobrepostas à (frágil) legislação urbana, o que da origem ao infame "paliteiro" de torres.

Todavia, os problemas ocasionados por estas construções extrapolam o plano estético e se refletem, por exemplo, em danos ambientais, como o caso das acusações contra a Infinity Coast, e sobrecarga nas redes de infraestrutura, notadamente a rede de água, esgoto e viária. Além disso, a construção destas enormes estruturas em proximidade umas das outras cria verdadeiras paredões que canalizam o ventos, gerando desconforto aos pedestres.  

Outro ponto preocupante relacionado à presença destes arranha-céus é o sombreamento do térreo urbano. Permitindo mais uma vez a comparação com Nova Iorque - que, segundo a Fast Company, até 2020 não verá mais a luz do sol em suas ruas - Balneário Camboriú já tem o sol da tarde comprometido onde ele é mais desejado: na praia.

Parece paradoxal que um balneário, um ponto de veraneio que atrai centenas de milhares de turistas todos os anos, negligencie precisamente aquilo que é (ou um dia foi) seu principal atrator. O mar, no entanto, não é mais indispensável na cidade catarinense, e isso se percebe a fala de Alcino Pasqualotto, diretor-geral da construtora Pasqualotto (uma das três maiores da cidade que encabeçam estas grandes obras): "É preciso equilibrar a estrutura urbana, qualidade de vida  e atratividade para quem vier investir." Frase louvável não fosse a conclusão. A cidade não passa de um grande investimento e tanto a estrutura urbana, a qualidade de vida e a atratividade são pensadas apenas (e apenas mesmo) para aqueles que podem garantir seu lugar ao sol. E isso custa bem caro.

No fundo, são apenas negócios.

Tem alguma opinião sobre a construção destes grandes arranha-céus em Balneário Camboriú e em outras cidades brasileiras? Escreva na seção de comentários abaixo.

Sobre este autor
Cita: Romullo Baratto. "Um lugar ao sol em Balneário Camboriú: a cidade na corrida pelos maiores arranha-céus do Brasil" 28 Dez 2015. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/779537/um-lugar-ao-sol-em-balneario-camboriu-a-cidade-na-corrida-pelos-maiores-arranha-ceus-do-brasil> ISSN 0719-8906

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